segunda-feira, 11 de março de 2013

Carrrminha...

A inspiração para o causo desta semana me foi dada pela amiga Carmen Mendanha.

Ela me passou, via Facebook, o link para um artigo. O assunto: um homem que havia ficado preso para fora do quarto de hotel. Sem roupa!

E por quê ela me passaria um artigo desses? Bom, porque nós duas passamos por uma situação parecida... e aqui conto como foi.

Antes, vou situar vocês. O ano era 2007, eu estava em New York com meu pai e minha tia Lúcia. Lá, na casa do meu saudoso tio Tony e da minha tia Isabel, encontramos a Carmen e seu marido Guedes. Casal divertidíssimo! Combinamos, nós sete, de fazermos uma viagem de carro até o Canadá.

Saímos de New York com direção a Buffalo. Nossa primeira parada seria em Niágara Falls. faríamos a imigração para o Canadá, seguiríamos até Toronto, depois Montreal, Kingstone e, de volta aos EUA, passaríamos por Albany.

Depois de um trajeto sossegado, feito na poderosa SUV do meu tio, chegamos às cataratas. É de encher os olhos!

Eu, como toda fã do Pica-Pau que se preze, perguntei ao guarda florestal:

- Moço, posso descer as cataratas num barril?

Pensei que ele fosse resmungar algo pra mim, mas riu e me disse:

- Ah, você já é a quinta pessoa que me pergunta isso hoje! Se quiser descer, por favor, não faça isso no meu turno, ok?

Então tá! Hehe...

Resisti à tentação de colocar esse plano em prática, enquanto um punhado de gente do lado canadense, vestindo capas amarelas, gritaria “Aêeeeee” quando eu passasse. Afinal, não dá pra contar com uma ajudinha de última hora do Superman, não é?

Ah, se você não se lembra dessa cena do filme Superman 2, não teve infância, caro leitor!

Voltando ao causo.

Admito, a vista é muito bonita. Claro, não tão exuberante quanto a nossa Iguaçu, devo dizer. Mas é emblemática. Cinematográfica. E é o marco de fronteira entre os EUA e o Canadá.

Próximo passo, atravessar a fronteira.

A princípio, seria simples. Eu e minha tia do Brasil tínhamos o visto canadense. Meu pai, Carmen e Guedes, o passaporte português. Meus tios que moram nos EUA, o greencard. Mamão com açúcar!

Agora, o problema: minha tia Isabel esqueceu o greencard dela em New York!

Meu tio ficou, com o perdão da palavra, puto. Disse para a minha tia:

- Só não esquece a cabeça porque tá grudada!

Minha tia respondeu:

- Ah, Antônio, não enche o saco!

E agora, como passar o “somebody love” na polícia de fronteira?

Bom, já estávamos lá, não nos restava alternativa. Teríamos que enfrentar a imigração canadense.

Meu tio Tony foi enfático:

- Gente, cuidado. Esse pessoal de fronteira é muito mal humorado, não gostam de piadinhas. Fiquem na sua e nada de risadas, eu converso com eles.

Aí começou a dar o “medinho” básico. Eu me recolhi à minha insignificância e não abri a boca. E lá foi meu tio, com o seu sotaque de Portugal carregadíssimo e macarrônico, ser nosso porta-voz.

Paramos no guichê, todos nós sérios e compenetrados. A policial de fronteira pediu nossos documentos, com uma cara de mulher mal amada que me deixou gelada. Não foi um bom presságio.

Demos nossos passaportes, meu tio, o greencard. Ela checou tudo. Contudo, ela sabia somar, infelizmente, e viu que faltava um documento.

Perguntou:

- E o documento da senhora ali?

Aí meu tio respondeu, no seu sotaque muito peculiar:

- Shí forgót the grincard, the social secúriti namber, shí forgót evirithigue! (sic)

Comecei a me sacudir. Ele falando inglês com a policial soou tão, mas tão engraçado, que tive que rir. Mas não podia fazer isso, estava com a policial de fronteira bem na minha cara!

A mulher ouviu a desculpa do meu tio. Fez uma pausa. E disse, novamente:

- E o documento da senhora ali?

Ou seja, perguntou exatamente a mesma coisa. Acho que é técnica de interrogatório, para ver se a pessoa entra em contradição. Devo ter visto isso num episódio do CSI ou qualquer coisa parecida.

Titio não se fez de rogado:

- Shí forgót the grincard, the social secúriti namber, shí forgót evirithigue! (sic)

Mas acrescentou:

- Shí forgót evirithigue but herr head! (sic)

E eu me “sacolejando” de rir, silenciosamente, no banco de trás!

A policial parou... pensou... e nos disse:

- Encostem ali. Todo mundo para fora do carro!

E, pela primeira (e única) vez na vida, eu fui detida!

Enquanto saíamos do carro, os policiais fizeram uma varredura no veículo. Cães farejadores tentavam detectar quaisquer resquícios de substâncias ilícitas. Afinal, éramos meliantes em potencial, certo?

Fomos encaminhados a uma “sala de espera”, pois teríamos que esperar até que a polícia verificasse as informações da minha tia. Por três horas, vivenciamos a rotina dos “cucarachas” de fronteira. Tinha gente de várias nacionalidades, a sala estava apinhada. Tínhamos um banheiro (razoavelmente limpo), e uma TV sintonizada na CNN. Também tínhamos as “vending machines”. Ou seja, só comia quem tivesse dinheiro, certo? Fronteira não é “drive thru”!

Tivemos um final feliz. Nossa entrada no Canadá foi autorizada. Afinal, verificaram que minha tia realmente era “legalizada” e, felizmente, não acharam nenhum “pozinho” no nosso carro.

Seguimos viagem. Passeamos em Toronto, conhecemos o parque olímpico de Montreal, vimos um antigo trem da Canadian Pacific (meu pai trabalhou nessa companhia, mas aí é outro causo), foi uma delícia de viagem. Mas foi em Kingstone, se não me engano, que o artigo enviado pela Carmen me trouxe lembranças.

Realiza a cena: estávamos instalados num hotel confortável, esticando as pernas da viagem de carro. Carmen e Guedes num quarto, tios Tony e Isabel e outro, eu, meu pai e minha tia num terceiro. Nos despedimos e fomos dormir, estávamos exaustos.

No dia seguinte, Carmem e Guedes chegam com uma história curiosa pra contar: o Guedes havia ficado preso para fora do quarto!

O resto da trupe arregalou os olhos e, no mais puro espírito de porco, quis saber dos detalhes sórdidos.

Eis a história: o casal dormindo, lindo e faceiro, noite adentro. Num certo momento, Guedes resolve ir ao banheiro. Sonolento, levanta-se da cama, vai até a porta mais próxima. Abre a porta, entra, fecha a porta... e percebe que não está no banheiro, e sim no corredor do hotel!

De pijama, felizmente!

Trancado no corredor, sua única saída é acordar a Carmen, que dorme o sono dos justos. Começa a bater na porta e a falar:

- Carrrminha!! (sotaque português em ação)

Carmem acorda, assustada, e não vê o marido no quarto. Só o ouve. E responde:

- Onde estás??

E Guedes responde baixinho:

- Cá fora...

Nesse momento, toda trupe começa a rir, que situação! Mas como o Guedes estava de pijama, não tivemos problemas com o hotel. Mas que deve ser um choque ficar para fora do quarto sem querer, deve...

Até hoje, quando vejo o Guedes, eu digo a ele: “Carrrminha”...

Tomamos nosso café e fomos embora, rumo aos EUA.

Agora, tínhamos um último obstáculo: enfrentar novamente a fronteira canadense. Não voltamos por Niágara, então tivemos que passar por outro posto. Novamente, o policial de serviço, mas desta vez com uma cara de muito bem-amado, perguntou:

- E o documento da senhora ali?

Titio prontamente respondeu:

- Shí forgót the grincard, the social secúriti namber, shí forgót evirithigue! (sic)

E também descreveu o nosso perrengue na entrada.

O policial olhou para o meu tio, olhou pra nós... e disse:

- Tá, podem passar. Mas não esqueçam o documento da próxima vez, ok?

Passamos aliviados. Afinal, uma detenção é mais do que suficiente para a vida toda!

Bom dia, pessoal!





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