quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Bienvenidos a Uruguay!

Amigos, aqui vai mais um causo fresquinho de viagem, e o primeiro do ano!

Enquanto escrevo, estou em Montevidéu, digitando no meu netbook, em cima da mala de viagem, que está numa cadeira perto do banheiro, pois lá é o único ponto de força disponível no quarto para o carregamento de bateria. Cruel situação, eles realmente não querem ninguém usando força à toa por aqui. Mas como sou brasileira e não desisto nunca, lá vai o causo!

Afinal, por que Uruguai?

Para ser honesta, foi por causa de um Globo Repórter. Já havia ouvido falar muito bem do país, principalmente de Punta Del Este, destino já visitado pelo meu pai em um cruzeiro. Mas depois que vimos esse programa, meu pai não sossegou enquanto eu não comprei as passagens para Montevidéu. O que foi ótimo, diga-se de passagem. Estou adorando conhecer o Uruguai!

Desfrutando da hospitalidade uruguaia. Coisa mais fofa!

E como toda viagem minha, tem seus perrengues, certo? É, sempre tem perrengue. O que seria a vida sem um pouco de emoção, afinal? Mas o que temos feito por aqui é pura diversão, principalmente por causa da presença da minha tia Isabel, que mora nos EUA. Ela topa qualquer passeio e é divertidíssima!  E mesmo com a presença da família buscapé (Joaquim, Fátima e Daniella), o Uruguai ainda não “tremeu nas bases”.

Hum... mais ou menos! Hehe...

Nós somos um pouco exuberantes, então é difícil passarmos despercebidos. É, brasileiro quando viaja em grupo é sempre notado!

Aqui vão os acontecimentos “top five” da viagem até agora.

1.    Free shop de primeiro mundo

Começamos a viagem bem, no free shop do aeroporto Carrasco em Montevidéu. Já havia sido alertada de que o free shop daqui era melhor do que o de Guarulhos. Dito e feito! No Brasil, gostei de uma malha Lacoste que custava “módicos” 147 dólares. E isso porque era preço de free shop, heim? Já no equivalente uruguaio, a mesma blusa custava 110 dólares, e ainda tinha uma promoção: compre três peças, pague apenas duas! E isso valia para a toda a linha (blusas, agasalhos, calçados...). Adivinha o que a criatura aqui fez? Já deixou alguns reais logo no desembarque, e ainda fizemos um estardalhaço utilizando o único provador do lugar. Já viram mulher resistindo a uma promoção? Nunca!

Mas admito, as coisas no Uruguai são um pouco caras. Um cafezinho no McCafé do aeroporto? O equivalente a 9 reais! Eu preferi ficar bocejando, mesmo porque não sou fã de café puro. Mas a velha guarda da viagem (papis, Fátima e tia) não dispensam a dose diária de cafeína. Foi caro, mas pelo menos, segundo eles, o café estava bom.

2.     Dirigir é preciso

Alugamos um carro já no Brasil, que estava nos esperando no aeroporto. Como sempre nesses casos, o carro tem o câmbio manual. Mas os nossos carros do Brasil têm câmbio automático, então leva um tempinho até nos acostumarmos a ter que trocar marchas.

Meu pai assume a direção e não entende porque não consegue engatar a primeira.

Olho para os pés dele e digo:

- Usa a embreagem!

Ele:

- Ah é, tem que usar o pé esquerdo!

E conseguimos colocar o carro em movimento. Mas de vez em quando ele esquece que precisa trocar a marcha. O carro a 90 km/h e o câmbio na segunda marcha.

O carro:

- Aaaaahhhhhh!!!

Eu:

- Pai, troca a marcha!

Ele:

- Putz, esqueci!

E assim foi por um bom tempo, até ele assimilar que as marchas não iriam se trocar sozinhas.

Nossa trupe e o carro. Com uma cor tão discreta, é impossível
perdê-lo no estacionamento!
Graças ao maravilhoso, espetacular e indispensável GPS (não saia de casa sem ele), chegamos ao nosso hotel, localizado bem no centro da cidade. Fizemos o check-in e fomos guardar o carro no estacionamento do hotel.

Tarefa fácil? Vai lendo...

O estacionamento é num edifício garagem, de cinco andares. O andar do nosso hotel? O último, claro! E para chegar até lá, curvas fechadíssimas, nas quais somente um carro passa de cada vez. Nas paredes, inúmeras marcas de lataria de carros com motoristas menos habilidosos. Muitas mesmo, tem que ser piloto para subir nessas rampas! Para sorte nossa, papis dá conta do recado e nos acostumamos com o lugar.

3.     Degustação de vinhos, que delícia!

Na primeira noite em Montevidéu, não fizemos muita coisa. Chegamos num sábado, o comércio fechado e as ruas com pouco movimento. Fizemos apenas o reconhecimento do terreno e fomos dormir cedo, pois no dia seguinte, faríamos o primeiro passeio agendado: Bodega Bouza, uma das melhores do país.

Estava ansiosa por provar os vinhos uruguaios e poder admirar as videiras carregadas de cachos de uva, é sempre uma visão espetacular. E a bodega não fez feio, olhem só:
Uvas no ponto para a colheita! Variedade tannat.

Lugar maravilhoso, paisagem de encher os olhos... e preços de esvaziar os bolsos! Descobri o conceito da bodega-boutique: produção baixa, mas de melhor qualidade. Em resumo, paga-se, e bem, pela exclusividade.

Bom, como a gente faz isso muito de vez em quando... fizemos tudo o que tínhamos direito!

Barris de carvalho apuram a safra 2013.
Começamos pela visita guiada. Depois, fizemos a degustação e almoçamos. Já havia visitado outras vinícolas no Brasil, e o que achei especial na Bodega Bouza é o caráter bem familiar do local. A produção esmerada se fez presente na degustação “premium”, mais cara, com os melhores vinhos da casa. Culpa da Juliana Carmesim, que apurou meu gosto para vinhos. Agora não consigo beber qualquer coisa!

Foram quatro variedades: branco, merlot e dois tannat bem amadeirados. Adorei os dois primeiros, mais suaves. Até comprei para trazer para o Brasil. As amigas “Sex and the City” vão adorar!

O almoço foi da mais alta gastronomia. Coisa chique mesmo, um desbunde! Enquanto fazíamos a degustação, já pedimos os pratos. Que demoraram. E demoraram... e nós só comendo os frios da degustação, e os garçons “entochando” pão na gente. Pães deliciosos, fresquinhos, que iam estufando nosso estômago enquanto a comida não dava o ar da graça.

Quando os pratos chegaram, quem disse que conseguimos comer tudo? Eu, que como uma ninharia,  “socializei” o conteúdo do meu prato: um pouco para a tia, outro tanto para a Dani e assim por diante. Ou seja, era comida que voava para tudo quanto era canto da mesa! Uns cediam o salmão, outros, a picanha, e a salada também entrou na dança.  E mesmo assim não consegui deixar o prato vazio. Mas garanto uma coisa, o talharim estava espetacular!

Almoço com muito vinho!

Outro diferencial da Bodega Bouza é a coleção e carros antigos que os donos mantêm no local. Tem de Ford T a Fusca, passando por motos Raleigh e triciclos. Todos muito bem conservados e em perfeito funcionamento. Claro, meu pai não deixava passar a chance de nos atazanar:

- Entra lá para tirar uma foto!

Exuberância em ação!
E os carros cheios de cordões de isolamento. Claro, ele estava brincando, mas os outros visitantes começaram a nos olhar de soslaio, provavelmente pensando: pobre quando faz programa decente nem sabe como se comportar!

Não duvido que alguém não tenha tirado uma foto e postado no facebook com uma legenda no estilo “aeroporto ou rodoviária?”. Provavelmente seria “bodega-boutique ou boteco da esquina?”.  Acho que o povo tem é inveja da nossa exuberância! Hehe...

4.     Mercados do Uruguai, uma atração à parte

O mercado da esquina vende games!
Como temos frigobar no hotel, fomos às compras nos mercados locais para comprar itens de sobrevivência básicos para qualquer turista: água, frutas, frios e pão. A rede onipresente aqui em Montevidéu é a “Ta-ta”. Provavelmente o diretor de marketing é o professor Girafales, porque com esse nome, só pode!

Eu adoro ir a mercados quando viajo. São lugares frequentados pelos locais, então é uma chance de ver o que eles consomem, perceber as peculiaridades e interagir com as pessoas. Interação, a chave da boa convivência em qualquer viagem!

Uniforme escolar, coleção 2013, nos mercados
em 2014 também!
Muito do que é vendido por aqui temos nos nossos mercados. Mas a dinâmica é um pouco diferente. E tem produtos que estranhamos ver em prateleiras de mercado. Como esses videogames, por exemplo. Colocados na prateleira como a coisa mais natural do mundo de se comprar por aqui. Mas no Brasil as caixas estariam atrás do balcão, fechadas atrás de uma porta de vidro fechada a chave, certo? Tudo bem, não tinha o PS4, mas foi estranho ver um mercado que é um misto de “Extra” com “Kalunga”!

Uma coisa que também me chamou a atenção foi o uniforme escolar. As crianças usam aqui o jaleco branco e o laçarote azul marinho, e a vestimenta pode ser encontrada nos mercados. Muito “fashion”, só que não. Mas como a taxa de analfabetismo do Uruguai é a menor da América do sul e todas as crianças aqui têm laptop, tenho é que enfiar a minha viola no saco. Os uruguaios podem não ter senso de moda, mas tem educação para todos!

5.     “Causando” em Colônia de Sacramento

Não é exagero. Nós causamos mesmo, deixamos a nossa marca naquela cidade e os locais irão se lembrar de nós. Pelo menos por algumas horas!

Agora conto o motivo.

Colônia é uma cidade minúscula, cheia de história, que pede o mínimo de fôlego para uma caminhada. Perfeita para andar de bicicleta, por sinal. Já cheguei com a ideia de alugar uma, mas a minha tia Isabel não pedala. Então tínhamos que achar um meio termo. E qual foi a nossa brilhante ideia? Alugar uma espécie de “carrinho de golfe” com esteroides e uma bike. Quatro pessoas da trupe iriam no carrinho e eu, de bike, iria atrás, pedalando. Como o veículo comportava apenas 4 pessoas mesmo, foi o arranjo perfeito.

A receita perfeita para o caos!

Perfeito, né?

O motorista (papis) e um passageiro (Dani) iriam de frente, mas os outros dois (Fátima e tia) iriam de costas!

As duas sentaram e afivelaram o cinto, mas não estavam lá muito seguras do nosso novo meio de transporte, e com razão. Uma curva mais fechada e poderiam sair pela tangente!

Mas a cereja do bolo ainda estava por vir. O tal carrinho era difícil, muito difícil de se dirigir com o mínimo de suavidade. Juntando a direção nada sutil com as ruas de paralelepípedo do lugar, o que temos? Passageiros em pânico, sendo transportados com a leveza e a suavidade de uma égua pocotó pelo sítio arqueológico de Colônia!

E para completar o espetáculo, meu pai buzinava a cada esquina!

Foto tirada com o carrinho em movimento.Tenso, mas hilário!
Ou seja, buzina, arranque, gritos dos passageiros, freadas bruscas, mais um arranque, mais buzina, risadas... e eu só atrás, pedalando, observando a cara de pânico da minha tia Isabel e chorando de rir!

Chegávamos a um lugar e todos já nos olhavam, porque era uma gritaria e um buzinaço sem fim. Curvas fechadas faziam os passageiros gritarem “ooopaaaa!” como se estivessem no casamento grego do século. Às vezes eu até passava longe, pedalando, fingindo não conhecer aquela gaiola das loucas ambulante!

Aí tínhamos que estacionar o carrinho (que não tinha portas nem janelas) e o meu pai já soltava outra pérola:

- E agora, como vou trancar as portas? Não tem porta!

E os locais, bem como outros turistas, só aproveitando o espetáculo.
Lotação esgotada. Só a bike salva!

Com a bike, eu não precisava estacionar para estar com eles. Fui pedalando pra lá e pra cá, visitei lugares que a entrada do carrinho não era permitida e senti o ventinho no rosto sem motor. Que delícia!

Na hora de devolver o carrinho, as passageiras não quiseram saber de embarcar novamente. Então eu e meu pai fizemos a devolução. Mas como ele não sabia o caminho de volta, eu fui pedalando à frente, e ele foi me seguindo. Posso dizer que o motor do tal carrinho era bem fraco, pois deixei meu pai para trás. Ou então ele não quis me atropelar, vai saber, né? Risos...

Agora preciso dormir, quase meia noite em Montevidéu. Vou deixar para contar sobre o city tour daqui quando escrever sobre o nosso destino de amanhã. Punta Del Este!


Boa noite, pessoal!

Dica de ouro: não alugue carrinho, vá de bike!

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Corra, Fêfa, corra!!

Aqui vai um causo especial de fim de ano!

Muita gente gosta de fazer retrospectivas nessa época. Tem muita coisa interessante, inspiradora, legal mesmo de se ler. Mas a grande maioria não passa de uma coletânea sem sentido, tão inspiradora como aquela coleção de “slides” que o tio centenário adora mostrar para qualquer visita que apareça na casa dele. 

E sabem que, pelos causos que já postei, gosto de tudo, menos de coisas entediantes, certo?

Então vou fazer uma coisa diferente. Vou focar em uma coisa que marcou o meu ano e explorar, como sempre, o lado “perrengue” da coisa. Afinal, este é um blog de perrengues, certo?

E o tema do causo de hoje é corrida!

Sempre tive problemas para correr, mas este ano finalmente eu “desencantei”. E tudo graças a três, digamos assim, quesitos: a minha infinita cara de pau, a valiosa ajuda de uma amiga de pedal e uma assessoria esportiva cuidadosa. Hoje, quem diria, sou uma corredora!

Bom, daquele jeito, né? Mas eu consegui amealhar um número razoável de medalhas de corrida desde outubro, olhem só:



Ouço algumas risadinhas de desdém? Sei que não há esporte mais... hum... natural de se praticar do que a corrida. Afinal, a humanidade está batendo perna por aí há milênios, geralmente tentando salvar o próprio derrière das garras de algum animal selvagem. Mas corrida nunca foi algo natural pra mim.

Quando eu era criança, a minha mãe dizia:

- Filha, corre!

E eu só conseguia andar mais rápido. Minha mãe não se conformava. Ela, que praticava atletismo e basquete no Clube Regatas Tietê, tinha uma filha que não conseguia correr!

Bom, pelo menos aprendi o basquete... mas isso fica para outro causo.

Nunca tinha participado de uma corrida, ou treinado seriamente o esporte. E aqui entra o primeiro quesito que me tirou da inércia e me colocou pra correr: minha infinita cara de pau! Sem parar para pensar, eu me inscrevi para uma corrida de 5 km, patrocinada pelo McDonalds.

Agora realiza a dimensão da coisa: nunca tinha corrido nem 5 minutos direto na esteira, onde eu estava com a cabeça de participar de uma corrida de 5 km, sem qualquer treinamento?

Pensa na apuração das notas das escolas de samba: Quesito cara de pau: nota... dez!

No dia anterior à corrida, postei no Facebook a foto da minha camiseta da prova, com o meu número de peito, anunciando o meu primeiro provável prodígio no mundo das corridas. E aí as coisas começaram a tomar um rumo inesperado.

Quem comentou o meu post foi a minha colega de pedal Luciana, dizendo que iria participar também e que me encontraria lá.

Pensei: putz, agora entrei bem!

Explico. A Lu é fera no pedal, o que chamamos de “rodão”. Sobe qualquer parede de bike, tem uma forma física invejável e fôlego de sobra. Eu só imaginava: como vou conseguir acompanhar tamanho pique? Vai ser um desastre!

No dia da prova, cheguei cedo para me familiarizar com o ambiente, totalmente novo pra mim. Era uma corrida só de mulheres, o que me lembrou do tempo em que eu estudava em colégio de freiras só para meninas.

É... meu passado é uma caixinha de surpresas! 

Enquanto aguardava o início da corrida, a Lu me mandava mensagem pelo WhatsApp. Iria me esperar para corrermos juntas. E eu naquelas... aiai, vou atrasar a vida da mulher, vai ser pior do que a famigerada “Subida da casinha” de bike em São Francisco Xavier (isso também dá um causo à parte).

Como ela se dispôs a me esperar, fiquei sem graça de não dar as caras. Fui ao encontro dela que, toda animada, me disse que estava começando nas corridas também. Eu expliquei que era a minha primeira prova e não queria atrapalhar o desempenho dela. Na minha cabeça, eu certamente a atrasaria, e não queria fazer isso.

Primeira medalha conquistada na parceria!
Mas aí ela me surpreendeu: disse que queria companhia para a corrida, e que faria a prova toda ao meu lado!

Aí senti o peso da “responsa”: iria correr com uma fera na bike, teria que suar para manter o ritmo. Mas como diria o Vicente Matheus, “quem está na chuva é pra se queimar”, né? Bóra correr!

Iniciamos a prova, e a Lu sempre ao meu lado. Conversamos durante o percurso, e recebia o incentivo dela todo o tempo. Fizemos as subidas, as descidas, e mal paramos para a hidratação. Pegamos nossos copos d’água em movimento e continuamos a prova.

Confesso que, no início, deu uma vontade louca de parar. As coxas começaram a queimar, o fôlego começou a faltar. Mas não fiz isso, graças ao incentivo da Lu. E assim foram passando pelas placas que marcavam a quilometragem.

Muitas coisas passavam pela minha cabeça conforme avistava as placas. No primeiro quilômetro:

- Aff, vou parar, não vai dar!

No segundo:

- É agora que eu morro!

No terceiro:

- Hum... interessante... ainda não caí dura no chão...

No quarto:

- Ah, agora vou completar essa bagaça!

Na linha de chegada, cinco quilômetros depois:

- “Véeei, num cridito!! Cheguei!!”

E que se dane a cronometragem. Era preciso registrar esse momento histórico!

Pois é, cheguei! Cansada, mas inteira! E graças a Luciana, minha parceira de corrida!

Quesito “valiosa ajuda de uma amiga de pedal”: nota... dez!

Finalmente, consegui mandar para as cucuias meu bloqueio mental para correr, e decidi investir no esporte. 

De que forma? Buscando uma assessoria especializada. No meu caso, escolhi a www.serativo.com, pois conheço a proprietária, Juliana: é outra amiga que pedala (muito) e oferece, pela empresa, treinamento de corrida e caminhada.

Comecei a correr três vezes por semana, duas no Ibirapuera e uma na esteira. Estou aprendendo a pisada correta, fazendo exercícios funcionais, treinando tiros (não com armas de fogo, como meu pai pensou quando contei a ele) e a redução no tempo foi substancial: comecei a correr 5 km em 43 minutos, hj já corro em 33. Em menos de três meses!

Quesito “assessoria esportiva cuidadosa”: nota... dez!

Agora sou uma corredora neófita no “admirável mundo novo” das corridas de rua. As pessoas que já estão nesse meio há mais tempo sequer devem notar o que vou relatar agora. Mas o mundo das corridas têm suas bizarrices. Muitas mesmo. E da mesma forma que observei as peculiaridades de um banheiro feminino de academia, observo o que acontece nos bastidores de uma prova de corrida.

Eis o que tenho observado sobre esse “admirável mundo novo”:

1.     Qualquer um pode participar de uma prova

Literalmente. Pessoas de todos os tipos, idades, propósitos e acessórios. Tem aquele gordinho que quer sair do sedentarismo: estrebucha, mas não desiste; a mulher que corre empurrando o carrinho de bebê ladeira acima (dá canseira só de olhar); o que vai com o cachorro (alguns têm até a camisa do evento!); o cadeirante que não tá nem aí para a deficiência e dá um show; o idoso que só agora decidiu correr, para desespero do cardiologista, e por aí vai. É um espaço democrático que aceita qualquer um que consiga se deslocar do ponto A para o ponto B, mesmo que isso crie um paredão que te obrigue a correr em zigue zague. Quer correr em linha reta sem impedimentos? Vá para o pelotão de elite. Ah, não tem fôlego para isso? Então vai no zigue zague mesmo, e bóra se divertir!

2.     Reparar no tênis que a galera usa é uma atração à parte

Aqui faço um paralelo com a bike. Sempre digo que o ciclista “rodão” pedala com qualquer bike, mesmo que seja uma “Barra Forte”. Para os corredores, é bem parecido. Como essas corridas-festivais de fim de semana tem muita gente da categoria “coxinha” (eu, inclusive), o povo adora investir no equipamento, muitas vezes esquecendo o básico, treinar a corrida! Então o sujeito usa o tênis super-hiper-mega-blaster-radioativo, que promete impulso suficiente para o usuário entrar em órbita, por “módicos” R$ 1000,00. Uma pechincha! Só que na primeira ladeira o suposto atleta simplesmente “arrêia”. Tem que fazer como a minha amiga Sabrina e seu estilo espartano de corrida: se não tem tênis, vai descalça mesmo. E a mulher corre muito!

3.     Provas mais concorridas são como uma convenção circense, cheias de tendas

Às vezes até acho que vou dar de cara com o show do Johnny Blaze, o Motoqueiro Fantasma, saltando por aneis de fogo. As empresas de assessoria esportiva disputam no tapa um espaço para montarem seus puxadinhos e oferecerem “briscroks” para os alunos. O legal é observar o aquecimento dos corredores de cada tenda. Alguns professores dão uns exercícios tão mirabolantes que fico na dúvida: o povo vai correr ou fazer um teste para o Cirque du Soleil?

Isso sem falar nas tendas vips. Oferecidas por patrocinadores e organizadores do evento, podem disponibilizar comida à vontade e banheiros privativos. Tem até massagista de plantão! Algumas são de acesso público, basta esperar na fila. Mas quanto melhor a boca livre, mais restrito é o acesso. Em uma tenda dessas consigo entrar, pois faço parte do Clube O2, mas já fui posta pra correr de outras por seguranças que, indiretamente, me perguntavam: “você é a famosa quem?”, no melhor estilo Alberto Roberto. Como sou uma ninguém, tinha que pegar o meu banquinho e sair de fininho...

4.     Tem gente que adora expor o corpo bem torneado a qualquer custo

Mulheres com shorts “atochados no rêgo”, tops com decotes dignos da Elvira, a Rainha das Trevas, ou homens exibindo a barriga tanquinho correndo descamisados (bom, desses eu não reclamo). Tem de tudo. Mais um pouco e vai ter gente fantasiada de Globeleza correndo atrás dos seus 15 segundos de fama. Ainda mais se der para aparecer no Fantástico, né? O supra sumo da glória televisiva!

5.     Tem mulher que corre com camadas de pancake no rosto

E blush. E rímel. E batom. E tudo o que tem direito. Não dá pra entender: quem em sã consciência vai correr com maquiagem pesada? Tem mulheres que usam mais pancake pra correr do que o Michael Jackson usava para ser filmado em alta definição!

O pior é a mulher que exagera no blush. Não sei se a pobre coitada levou uma chinelada na cara, está com uma grave reação alérgica ou está fazendo uma singela homenagem ao Bozo. E depois da corrida, estão todas com as caras derretidas, como se fossem bonecas saídas de um incêndio no museu de cera. Um verdadeiro filme de terror!

6.     Alimente-se corretamente antes da prova... ou pague o preço!

Descobri isso da pior maneira possível: passando perrengue durante a prova.

Confesso que nunca tinha passado por algo parecido no ciclismo. Já comi praticamente de tudo antes de pedalar e nunca tive problemas. Mas para correr... véi, na boa: o negócio pode ficar realmente punk! E não tem como usar eufemismos aqui, falo de uma famigerada crise de diarreia.

Ah, agora riu, né? Mas realiza a cena: eu lá, serelepe e pimpolha correndo ao som de “Carruagens de Fogo” e vem aquela vontade incontrolável e fulminante de fazer o número 2. Só que não tem qualquer banheiro pelo caminho e dar aquela “agachadinha” atrás do poste não é uma opção. Sem uma moita decente por perto, e aquela sensação de que todo mundo está de olho em cada movimento seu, como resolver isso?

Resposta: suando frio. Literalmente. Ou então correndo/andando de lado, feito caranguejo, para tentar segurar a onda. Ou fazendo das tripas coração para que seu derrière não vire um gêiser digno de Yellowstone. Na última corrida que tive esse “probleminha”, diminuí o tempo em quase dois minutos apenas para chegar mais rápido a um banheiro! Tudo para não borrar as calças e pagar não o mico, mas o King Kong (versão Peter Jackson) do ano.

Bom, pelo menos eu descobri o que desencadeia essa “caganeira sem fim” no meu organismo: leite. Nunca, mas nunca mais mesmo, tomo leite antes de uma prova!

7.     Atleta de fim de semana precisa ganhar medalha

Basquete, natação, ciclismo, futebol, corrida, estudo.
Ano que vem tem mais!

É a “Lei de Mutley”: medalha, medalha, medalha! Eu obedeço cegamente a essa lei. E se for do tamanho de uma pizza brotinho, melhor ainda. Quanto maior, mais impressionante fica no meu quadro de medalhas.

É gostoso ganhar uma recompensa pelo seu esforço durante a corrida. É como um “atestado de sucesso”: completei a prova, não importa se for caminhando ou correndo. Cruzei a linha de chegada e a medalha prova isso, fechei um ciclo. Pode até soar poético, mas no fundo é pura viadagem. Corredor de verdade vai na pipoca, sem medalha, ou corre em qualquer lugar, pelo prazer da corrida. Mas eu adoro esse incentivo e até arranjei um penduricalho para colocar as minhas medalhas. Estão todas lá, na parede do escritório, pra quem quiser ver.

8.     Atleta de fim de semana precisa de um kit

Eu me refiro ao kit pré-prova, geralmente composto por camiseta e número de peito. Nos kits básicos mais generosos, pode vir um boné, um squeeze ou uma toalhinha de alta absorção pós-prova. E a medalha, claro!

Mas aí não basta o kit básico. Tem o kit vip, o plus, o blaster, e assim por diante. Dá para incluir mochilas de ginástica, de hidratação, jaquetas e qualquer tralha com o logo da corrida.

E como se não bastasse pagar um absurdo por esses kits vips, tem a criatura que usa toda a parafernália de uma vez durante a corrida. Devem pensar que mostrar que compraram o kit vip “agrega valor ao camarote”, né? Mas realiza: uma prova de pífios 5 km e o sujeito corre de mochila de hidratação. Gente, são só 5 km, tem postos de hidratação durante o percurso, precisa mesmo correr com um penduricalho às costas? Ah, mas se estiver escrito “Circuito das Estações” é fashion! Sinceramente, é algo além da minha compreensão.

9.     As corridas são muito caras para a estrutura que oferecem

Isso vale para a maioria das provas. Cobram uma fortuna por um kit furreca e uma alimentação de legionário. E percebo que o problema é mais grave nas provas de maior prestígio. Afinal, quem não quer correr a São Silvestre, por exemplo? Mas o que me contam (pois ainda não tenho fôlego para 15 km) é que o kit dessa prova é pífio, com uma camiseta de algodão e uma medalha chinfrim. Mas é São Silvestre, então o corredor se submete aos preços abusivos para se enquadrar à “Lei de Mutley”. Ou aparecer na Globo!

Tem as exceções, claro. Corri o Caminho da Paz e, por módicos 20 reais ganhei um belo kit, uma medalha do tamanho de uma esfiha aberta do Habib’s e desfrutei de uma bela infraestrutura. Mas nem tudo é perfeito, claro! Olhem só o tamanho da maçã que deram para nós. Achei que fosse uma cereja!


10.     Temos mais amigos corredores do que imaginamos           

Nossa última corrida do ano. Percurso completado e quilos eliminados!
Depois que comecei a correr, descobri que tenho muitos amigos que praticam o esporte. Eu nem desconfiava que alguns corressem (como a Luciana, por exemplo). Parece que me foi desvelada uma sociedade secreta que, no entanto, é pública e notória: estava na minha frente o tempo todo, só que não percebia. Com isso, em quase todas as corridas acabo encontrando gente conhecida, quer seja do pedal, do bairro, do trabalho ou da academia. Experimente começar algo diferente, vai acabar recebendo muitas mensagens de amigos com a frase “ei, eu também faço isso”!


Essa acaba sendo a melhor parte de se começar algo diferente. Compartilhar momentos de alegria (e perrengues) com os amigos, experimentando coisas novas ao invés de vegetar no sofá. E se puder fazer algo que te ajude a entrar em forma e melhore a saúde, melhor ainda!

Desejo aos amigos e leitores do blog um maravilhoso natal e um ano novo repleto de novas realizações... e calorias queimadas!

Bom dia, pessoal!


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

E cadê o respeito?

Olá, pessoal!

Pois é, há tempos que não escrevo, não?

Poderia desfilar para vocês um rosário de desculpas: as manifestações populares, a alta do dólar, a crise das empresas do Eike Batista, o aquecimento global e por aí vai. Mas a verdade nua e crua é a seguinte: faltou inspiração!

Mas hoje tive um momento “eureca”: baixou um causo! E tudo por causa de um cidadão chamado Justin Bieber.

Alto lá, não sou fã do cidadão! Como diria Marcelo Médici, “Cada um com seus ‘pobrema’”, certo? O tipo de música que ele faz não tem nada a ver com o meu gosto musical.

Acompanho, contudo, o noticiário. Vi que o cidadão acabou o show mais cedo em SP (apesar dos fãs terem ficado por semanas na fila, dormindo na rua), pichou muros no Rio e varreu o chão do palco com a bandeira da Argentina em Buenos Aires. Coisinhas mínimas, triviais mesmo, para o dia de hoje.

É claro que esse comportamento gerou críticas: menino mimado, birrento, problemático, sem profissionalismo e por aí vai. Isso não me causou qualquer espanto. O que me surpreendeu, e me deu a ideia para o causo, é que tem muito fã por aí que, apesar de ter sido desrespeitado pelo seu ídolo, ainda saiu em defesa do cidadão!

Véi, na boa: muita falta de amor próprio!

Mas pensando bem, quem sou eu para julgar o comportamento de pré-adolescentes sem o mínimo de “senso de noção”, que correm por aí atrás de um garoto-problema, são tratadas por ele como lixo e ainda se deliciam com isso?

Pois é. E sabem por que eu não julgo? Porque lá na longínqua década de 80, eu fazia parte desse bando de tapados!

Pela década, meus contemporâneos já deduziram a quem me refiro, certo?

A formação mais famosa, com figurinos dignos dos anos 80
Isso mesmo, ao grupo Menudo!

Quem era pré-adolescente no ano de 1985 sabe do que eu estou falando. A “menudomania” tomava conta dos lares das meninas daquela época. Eu, então, era fanática mesmo: discos de vinil, álbum de figurinha, cartazes espalhados pelo quarto, camisetas, revistas... tudo que falasse da banda, eu tinha.

O meu preferido era o Robi Rosa. Ah, eu adorava aquele cidadão, achava o garoto mais charmoso do planeta. Quando o sujeito cantava, eu babava, feito tonta, durante a música toda, tocada na minha vitrolinha Phillips vermelha, no melhor estilo Ultraje a Rigor.

E como toda fã que se preze, meu sonho era ir ao show da banda. Claro, era o meu sonho e o de todas as garotas brasileiras da época. Felizmente (ou não, aguardem), eu pude realizar esse sonho, em 1985!

Foi anunciado o famigerado show no Morumbi, e eu tinha que ir de qualquer jeito! Fizemos uma “caravana da coragem” aqui no bairro. Duas mães dotadas de uma paciência de Jó levaram três adolescentes tapadas ao Morumbi, para verem a banda de pertinho.

Bom, de pertinho era um eufemismo, né? Naquela época de vacas magras e inflação galopante, tudo o que o grupo conseguiu comprar foi um lugar na geral. Sabe o poleiro, lá em cima, lá longe, na linha do horizonte? Pois é, foi ali mesmo que nós ficamos.

No dia do show, lá fomos nós para o estádio do Morumbi. As mães carregavam lanches e água nas sacolas. Eu e minhas amigas, vestidas com camisetas do grupo, fizemos cartazes com fotos e declarações de amor eterno aos rapazes. Na nossa cabecinha oca, achávamos que nossos cartazes seriam vistos pela banda, do palco. E nós lá, na “geralzona”, vulgo “poleiro de pobre”.

Fala sério, criança é tão ingênua...

Lembro que os portões abriram à uma da tarde, e a nossa caravana já estava pronta para invadir o Morumbi. Foi a minha primeira vez em um estádio de futebol! Eu estava embasbacada com o estádio, com a euforia pré-show, uma alegria sem tamanho. Finalmente, veria os “menudos” ao vivo!

Veria, né? Vai lendo...

Munidas dos nossos ingressos da geral, fomos para os nossos lugares. Sinceramente, eu não tinha noção de que ficaríamos tão longe do palco. Íamos subindo as escadas, subindo, subindo... até que os degraus acabaram e aí sim, achamos nossos lugares. Literalmente, na “pqp”!

Eu e minhas amigas olhamos para o palco lá embaixo, lá longe, e pensamos: eba, vamos ver os menudos!

Adolescente sem noção é fogo...

O show estava marcado para começar às 8 da noite. Então ficamos sentadas na geral, desde a uma da tarde, esperando. E por muito pouco não ficamos esperando Godot!

Passamos o tempo da melhor forma possível. Conversando, cochilando sentadas, fazendo alguma brincadeira de criança. Não tínhamos celular, tablet, mp3. Aliás, nem fotos do evento nós temos, o rolo de filme era caro demais.

Pouco antes do show, começou a cair uma chuva torrencial em SP. Não era chuva, eram baldes d’água que caíam sobre nossas cabeças. A arquibancada da geral virou um complexo de cachoeiras e corredeiras. Se eu estivesse com a minha prancha de isopor, “pegaria” tranquilamente alguns “jacarés”. Estávamos com capas de chuva, mas de que adiantava? Ficamos completamente ensopadas. Nossos cartazes começaram a se desmanchar na água, e fazíamos de tudo para salvá-los. Afinal, os rapazes leriam a nossa arte elaborada com cola Tenaz e muito gliter, certo?

Acho que nem com binóculo!

A hora do show se aproximava, e já estávamos sem água e sem comida. Que estoque de alimentos dá conta de três adolescentes famintas? Mas na cabeça das mães, a fome duraria pouco. O show começaria no horário, iríamos para casa e beberíamos um gostoso copo de leite quente (vendido no saquinho) recém-fervido no fogão (naquela época não tinha micro-ondas).

Finalmente o relógio marcou 8 da noite. Nós, cartazes em punho e debaixo de chuva, estávamos prontas para berrar o repertório do Menudo, começando, de preferência, por “Não se reprima”.

Mas o show não começou. Então esperamos mais um pouco. Oito e meia, nove, nove e quinze, dez, dez e meia... e nada!

A movimentação no palco era intensa. No intuito de proteger os cantores da chuva, a equipe de apoio movia uma lona de plástico pra lá e pra cá. Dependendo de como era colocada, bloqueava a nossa visão do palco! Uma das mães que nos acompanhava não se aguentou e começou a berrar:

- Tira essa lona daí! “Tão” com medo de molhar a sapatilha, seus @$%&+!?!!

Eu, menina educada em colégio de freiras, olhava abismada para a tal mãe. Se alguém em casa, naquela época, falasse naquele tom e usando aquele palavreado, levaria um corretivo na hora!

Enquanto o pessoal da geral enfrentava as cachoeiras, o pessoal da pista começou a usar a lona que cobria o gramado do estádio para se proteger da chuva. E isso atrasou mais ainda o show, pelo crescente risco de choques elétricos. A fiação passava por baixo da tal lona, e os organizadores ficaram com medo de ligar os equipamentos de som e machucar alguém. Mas o que seria pior, algumas pessoas eletrocutadas ou uma multidão ensandecida por um show cancelado?

Situação difícil essa...

Por fim, decidiram começar o show com chuva e tudo, de qualquer jeito. Detalhe: passava das 11 da noite quando o quinteto pisou no palco, debaixo do maior toró. Eu e minhas amigas ficamos extasiadas pela visão dos nossos ídolos: todos eles poderiam ser cobertos por um simples dedo da mão, de tão pequenininhos que eram. Não tinha telão ou algo parecido, então só tínhamos a visão do grupo na versão “Playmobil” de formigueiro. O meu cartaz, a essa altura, já havia se jogado no seu próprio jacaré e descido arquibancada abaixo, na corredeira.

A água era tanta, mas tanta, que os menudos surfavam no palco. Um chegou a se espatifar gloriosamente no chão, acho que foi o Roy. A chuva não deu trégua em nenhum momento do show! E a certa altura, morrendo de vontade de fazer xixi, pedi para uma mãe me levar ao banheiro.

Pedido insano, claro. Como achar um banheiro no meio de um temporal, numa arquibancada cheia de gente, no escuro, em pleno estádio do Morumbi? Como acharíamos nosso lugar depois?

Foi aí que essa mãe, num momento de psicodélica lucidez, bradou pra mim:

- Tá louca, sair daqui agora? Faz nas calças mesmo, a chuva leva!

Heim?

Olhei pra ela, olhei para o palco e quase chorei! Como assim, fazer xixi nas calças? De propósito? Mamãe falou pra mim que isso era uma coisa muito feia de se fazer! Mas eu estava apertada, não tinha banheiro, tinha a autorização de um adulto... e me rendi. Molhei as calças, já ensopadas da chuva. Minha amiga, vendo a minha situação, comentou:

- Vou ter que fazer xixi também...

E foi no meu embalo!

Foi aí que um vislumbre de lucidez se abateu sobre a minha cabecinha de vento. Claro, não era apenas eu que estava naquela situação vexatória! Olhei para as cascatas de água que desciam arquibancada abaixo... e comecei a imaginar que estava submergindo numa correnteza de xixi! É claro que a molecada (e mães também) lá de cima também estava se aliviando. E se, num infortúnio, tivessem que fazer o número 2? E se o tal número viesse na minha direção?

Socorro!!

Senti um nojo absurdo. Naquela hora, o show acabou pra mim. Show que nem foi grande coisa, pra falar a verdade. Digo isso hoje, claro, mas na hora estava feliz da vida, até ocorrer o episódio do xixi.

Cerca de uma hora depois, acaba o espetáculo. Eu, minhas amigas e as mães fomos em direção ao nosso carro exaustas, cheirando a xixi e já dando sinais de resfriado. Quando voltamos para o nosso bairro, madrugada alta, meus pais já estavam na rua, preocupados com o atraso.

Entrei na casa feito um zumbi. Mal cumprimentei meus pais, não conseguia articular um discurso coerente, tamanho era o cansaço. Sem palavras, fui direto para o banheiro. Devo ter ficado uma meia hora no chuveiro, me aquecendo e tentando lavar aquela sensação de fedor de xixi que me acompanhava desde o estádio.

Depois do banho, um copo de leite quente e cama. Dormi profundamente, exausta, e só acordei para o almoço no dia seguinte.

Acordei bem. Bem “emputecida”, na verdade. Eu me sentia uma verdadeira trouxa. Fui atrás dos meus ídolos e acabei a noite ensopada e encharcada de xixi. Pra quê isso?

Narrei os acontecimentos para os meus pais que, claro, ficaram horrorizados. Eu estava, no mínimo, desapontada. Achava (e ainda acho) que não valeu a pena ter passado por todo aquele perrengue para ver o Menudo. Achava (e ainda acho) que os ídolos existem por causa dos fãs e, no melhor estilo “Tutubarão”, merecem respeito!

A consequência desse perrengue todo? Quebrou-se o encanto. Aos poucos, fui tirando os cartazes das paredes do quarto, jogando as revistas fora. Guardei os discos por algum tempo, pois eram artigos caros, não se jogava um vinil no lixo assim, do nada. Mas nem tinha mais vontade de escutar as músicas.

Para vocês terem uma ideia do quão traumatizante foi essa experiência, eu só fui novamente a um show, no mesmo Morumbi, em 2010. Fui porque era o Paul McCartney, artista de verdade que não toca com playback. E foi uma delícia, por sinal! Fiquei na pista (uma evolução, não?) e me diverti com os sucessos do Paul e dos Beatles. Ah, e o show do Paul atrasou um pouco: cinco minutos! Faz toda a diferença quando o artista respeita seu público, não?

Por isso que não entendo o fã que, mesmo destratado pelo seu ídolo, o defende. É coisa de gente masoquista, só pode ser! Mas como diz aquele velho ditado, “cada um, cada um”. Entendo a fascinação da relação ídolo/fã. Mas não admito, em hipótese alguma, ser destratada. Se por um temporal eu deixei de curtir um grupo musical, imagina se tivesse dormido por semanas na fila para ver um showzinho porcaria?

É, a molecada de hoje tem outra “cabeça”!


Boa noite, pessoal!

terça-feira, 11 de junho de 2013

Um espetáculo de casamento!

Muita gente utiliza a expressão "casamento do século" para se referir às uniões dos famosos. Artistas, príncipes e assim por diante. Eu vejo diferente: para mim, casamento do século é aquele cujos noivos e família são queridos, a festa é espetacular e eu estava entre os convidados! 

Do que me adianta o casamento do príncipe William, por exemplo? Eu não estava lá, a realeza nem sabe que eu existo. Então o significado daquele evento, para mim, ficou resumido a algumas fotos nas revistas de celebridade. 

Mas tudo muda de figura quando se é convidada, ainda mais para uma festa tão especial. A noiva, Melissa, é filha dos queridíssimos Carmen e Raul! Por eles, eu e meu pai atravessamos um oceano, rumo a Portugal, especialmente para este evento. É, pessoal, a França foi apenas um bônus! O real motivo da nossa viagem foi comparecer ao casamento da Melissa e do João Pedro. 

Claro, como todo grande evento, tem seus causos, certo? Bóra rir!

Certa de que o tempo estaria quente em Portugal, trouxe um vestido curto para o casamento. Mas sabem como é, aquecimento global, mudança do eixo do planeta, conjunção de estrelas não sei em qual canto do universo... E nada de calor. Frio, chuva e vento. Felizmente, trouxe uma echarpe comprada em Muscat, Omã, e consegui me proteger um pouco do frio. O "conjunto da obra" ficou assim:



Ah, pelo menos estava apresentável, né? Hehe...

Devidamente paramentadas e penteadas, eu, minha tia e minhas primas, acompanhadas pelo meu pai vestido num terno impecável, rumamos para a cidade de Braga.

Chegar à igreja não foi tão difícil. O complicado mesmo era acertar as entradas nas famigeradas rotundas, o que chamamos em SP de rotatória ou balão. Olhávamos as placas com antecedência e avisávamos ao motorista, meu pai:

- Entra na próxima. 

Ele passava direto. 

- Mas pai, era aquela entrada!

- Eu só vou entrar quando tiver certeza! 

E ficava dando voltas na rotunda, como naquele filme "Férias frustradas", lendo e relendo as placas!

Após uma infinidade de rotundas, chegamos ao nosso destino.  O casamento foi na Sé de Braga, a catedral. Para os paulistanos, casar ali seria um misto da grandiosidade da catedral da Sé e do requinte da igreja Nossa Senhora do Brasil. Realizou a cena? 

Colocamos nossos sapatos de salto agulha nas ruas de paralelepípedos de Braga, rumo ao casório. Andar ali sem cair no chão "de peixinho" era acrobacia digna de artista do Cirque Du Soleil. Mas uma vez em cima do salto, eu não desço facilmente!

Chegamos a tempo da cerimônia (apesar das rotundas), e ainda pudemos ver a noiva pronta para entrar na igreja. Ela estava magnífica! O vestido, de princesa, era adornado com plumas no corpete inteiro, ela parecia um anjo! E o pai da noiva, alinhadíssimo num fraque, irradiava felicidade. Quando a noiva nos viu, fez sinal para que entrássemos correndo, o casamento já iria começar. 

A cerimônia foi realmente linda. A entrada da noiva, triunfal! Olhem só isso:



Pois é, gente farofeira sempre tem um celular à mão para eventuais fotos... Pelo menos dá para ilustrar o causo!

Na saída, chuva de pétalas de flores e arroz, proporcionada pelos convidados. Eu, no malabarismo, fotografava e jogava flores ao mesmo tempo, no melhor estilo "se vira nos 30":



Próximo passo: chegar ao buffet "Solar da Levada". E aí passamos um perrengue básico. 

No programa do casamento, havia um roteiro para se chegar ao Solar. O problema era que não se tratava de um mapa com o nome das ruas, mas indicações baseadas nas informações prestadas por um GPS. Sabem quando a gente coloca o endereço no Google Maps e o site te dá, além do mapa das ruas, a indicação do roteiro com o "vire à esquerda", "siga pela rua tal" e "faça a curva após 200 metros"? Certamente as indicações eram claras para quem é daqui. Mas para nós, do outro lado do oceano, era o mais puro aramaico. E agora, o que fazer?

Não tínhamos ninguém para seguir, todos já haviam ido embora. Nossa única  referência era o estádio de futebol da cidade. Seguimos as placas, chegamos ao estádio. E só. Não sabíamos seguir adiante. 

Meu pai foi pedir informações nas redondezas. E ficou um bom tempo conversando. Isso era garantia do seguinte: ele entraria no carro e diria "o sujeito falou, falou... E entendi nada!"  Mas aí tivemos um tremendo golpe de sorte. Um dos informantes se dispôs a nos levar até lá! E por cerca de 20 minutos seguimos o carro do bom samaritano, que nos deixou na porta do Solar. Quisemos lhe dar ao menos o dinheiro do combustível, mas o sujeito não aceitou. Graças a ele, não perdemos a festa. 

Quando chegamos, o pai da noiva veio nos receber. E disse que já estava preocupado com a nossa demora. Depois que narramos o nosso perrengue, ele disse:

- Eu nem estava preocupado! Com a Fernanda, que se vira em qualquer lugar,  vocês chegariam aqui tranquilamente!

Vixe! Respondi:

- Ah, seu Guedes, eu  até que me viro bem... Mas não faço milagres!

Após a chegada dos noivos, teve início a recepção. A coisa mais linda que já vi! Comida deliciosa, variada, num lugar lindamente decorado!


Felizmente, o pai da noiva conversou bastante comigo, e me apresentou a várias pessoas. Assim não me empanturrei com aquela comida deliciosa, e pude desfrutar o jantar que viria depois!

Para cada pessoa que me apresentava, o pai da noiva falava:

- Esta é a Fernandinha... Um amor de pessoa... 

Eu, toda encabulada, fazia carinha de "cachorrinho com vergonha". 

Mais elogios desfiados, o Raul continuava:

- A Fernandinha trabalha na Polícia Federal...

E eu dizia:

- É Justiça Federal, seu Guedes! Daqui a pouco vão pensar que eu vim ao casamento armada!

Ele fez que sim com a cabeça. E me apresentou ao próximo amigo:

- A Fernandinha trabalha na Polícia Federal...

Eu:

- Mas é Justiça...

Não adiantou. Virei policial no casamento! Hehe... Se é federal, beleza!

E o Raul arrematou:

- Conta a história da "Carrrminha"!

Para quem ainda não leu, a tal história, cujo título é justamente "Carrrminha", já está no blog. Eu a contei algumas vezes, o Raul, outras. E a Carmen, a mãe da noiva, e protagonista do outro causo, ainda perguntava:

- E aí, já temos um causo? Eu vou querer ler!

Uau, a mãe da noiva pedindo um causo, que "responsa"! 

Já pensando no que escreveria, caminhei em direção ao salão de jantar. Os lugares já estavam previamente demarcados. As listas das mesas foram colocadas em pequenos quadros, pendurados no jardim. Muito original! Eis a nossa mesa:




Quando entrei, meu queixo caiu. Sério, não é exagero. Entrei no salão mais lindamente decorado que já vi! Pensei que estava no salão de eventos da Ópera Garnier em Paris. Vejam só o detalhe da decoração de uma das mesas. Nossa mesa, por sinal:



Agora, uma panorâmica do salão:



Devidamente acomodados, começamos a interagir com os outros convidados. E tive a sorte de dividir a mesa com um casal impagável: Mário Reis e a sua esposa Olga. Eu nunca ri tanto numa festa como nessa! Tudo era motivo de piada. Diante do trio de garfos e facas que ladeavam cada prato, ele perguntava:

- Mas pra que tudo isso? Qual eu uso primeiro?

Eu arrematava:

- Faz como no Titanic, começa de fora para dentro que dá certo!

Para cada prato que chegava, ele perguntava:

- Tô fazendo certo?

Quando terminamos o primeiro prato, eu lhe mostrei como pousar os talheres. Ele dizia:

- Vou tirar foto, assim eu não me esqueço!

Como sentou perto do meu pai, os dois começaram a confundir os talheres. Seu Mário bradava:

- Olha aí, ele está pegando o meu garfo! Como vou comer o próximo prato? Devolve minha faca!

A parte brasileira da mesa chorava de rir descontroladamente. A ala portuguesa, no meio de tanta exuberância, ria também, só que de forma mais discreta. Não tinha como se manter impassível, nossa risada era contagiante! E contagiou até o nosso garçom, o Mendes. 

O pobre do Mendes foi pego para Cristo pelo Mário, que se apresentou e ainda falou:

- Vem cá, vou te apresentar o pai da noiva! 

E foi procurar o meu amigo Raul. Apresentações feitas, diz o Mário:

- Se quiser um aumento, esse é o homem do dinheiro! Fala aqui com ele!

Na foto abaixo, Mário, Raul e meu pai:




O Mendes demonstrou jogo de cintura, e entrou no clima da nossa mesa, contando até piadas. A certa altura, ele veio falar comigo:

- És muito parecida com uma atriz brasileira! 

Heim? Ele continuou:

- Sabes a namorada do Tufão?

E agora, como explicar que sou uma brasileira que não vê novelas? Perguntei o nome da atriz, ele não sabia. Só repetia que eu parecia a namorada do Tufão. Depois de mais um pouco de pesquisa, descobri de quem se tratava: Heloísa Pérrissé! 

Como diria o Pica-Pau: "em todos esses anos nessa indústria vital, esta é a primeira vez que alguém me confunde com uma artista"...

Logo depois, chegam os pais do noivo à nossa mesa. Imediatamente brada o Mário:

- Espera aí que eu vou te apresentar um cara legal. Mendes!!!

O pobre do Mendes, trabalhando. E o Mário:

- Vem conhecer o pai do noivo!

As risadas continuavam e a comida, deliciosa, nos deixava enfastiados. Os talheres diminuíam também. O Mário olhava para mim e dizia:

- Tá certo isso? Estou sem talher e ainda falta a sobremesa!

- Tem talher logo acima do prato, seu Mário!

- Ah bom, porque senão eu ia pedir para o Mendes! Cadê o meu amigo? Mendes!!!!

Chegou a hora de partir o bolo. Eu, pensando que seria dentro do salão, como sempre é, certo?  Foi quando a noiva me disse:

- Cortaremos o bolo lá fora, com fogos de artifício!

Como é que é?

É assim, ó:


Isso foi só o começo! Cortado o bolo, veio o brinde!


Eu, ao lado da Carmen, não me aguentei e chorei de emoção! Foi a parte mais incrível da festa, pura magia!

Após o bolo, a música ao vivo tomou conta da festa. Os músicos, dos Açores, eram espetaculares. Mas essa parte da festa não pude desfrutar, minha priminha não estava se sentindo bem e a levamos para casa. Considerando que eu tive cólica renal no dia anterior, sei bem como é não se sentir bem em uma festa. Solidariedade sempre!

Despedidas feitas, veio o derradeiro perrengue da noite: voltar a Esposende. A Carmen deu o caminho de volta, mas é claro que nos perdemos. Tarde da noite, começamos a buscar informações na rua. Eu parei um grupo de caminhantes e perguntei a direção para Braga, pois de lá seguiríamos para Esposende sem problemas. A líder do grupo respondeu:

- Ora, pois, qualquer caminho aqui leva a Braga!

Hum... Ok, mas qual o melhor caminho? Um garoto respondeu: 

- Ora, não sabes chegar a Braga?

Pacientemente, respondi:

- É que somos do Brasil e não conhecemos o lugar...

O garoto:

- Mas o que estás a fazer aqui, então?

A líder do grupo:

- E isso lá é da tua conta, ó pá! Ela faz o que quiser! Não te metes na vida alheia!

Comecei a rir! O garoto, coitado, tentou se endireitar. Perguntou:

- Tens que ir para a ponte "tal", sabes qual é?

E a líder, mais uma vez:

- Ela já disse que não é daqui, como ela vai saber da ponte, ó pá?

O pobre garoto desistiu. Fiquei até com dó dele...

Recebemos as indicações, complementadas por mais algumas dicas da dona do restaurante local. E chegamos a Esposende sem problemas.

Foi só no hotel que desci do salto. Com um sorriso de orelha a orelha, tirei o laquê do cabelo, a maquiagem do rosto e fui dormir, com a sensação de que cada milha voada para comparecer ao casamento foi lindamente recompensada com muito carinho por parte dos noivos e dos pais da noiva. Carmem e Raul, adoramos vocês! E felicidades aos noivos que, a esta altura, já estão na Tailândia!

Boa noite, pessoal!